domingo, 18 de setembro de 2011

Paradise City

.
.

que sua voz me arranhasse:
agulha sua garganta, vinil minha saudades –
.............só meu seu chiado                        jazz singer
..........................gorgeous whiskey breathed nigger

.........................(outros não a sonham, não a imaginam –
.........................não a vêem de olhos fechados –; outros não
.........................a amam como poetas, não a escutam como músicos).


que o mundo se tornasse preto
& branco ante a menina
dos meus olhos – lassivíssima –,
algo Sin City, sim,
algo Santos, claro,
algo São Paulo – digo, invertido:
concreto, mar e pecado – Paradise City.

.............(travessos travestis atravessam teu Cabo de Piche a nado,
..........................sabedores da sujeira,
.............cobradores de taxas obscuras por tua obscura partitura:
..........................venderam-me este poema)


...........................para quem sua voz circundasse:
.............sereia seria sua canção, projétil minha
.............mirada de – pleonasmo – marido traído;
doce seria matar ou morrer em ti e por ti

............. s   p   a   r  a   g  m   o   s 

e assim fazemos,
amém,
morrendo de medo.


..

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

transporte coletivo

..
ligado em tudo
antenado nas novas tendências
em sintonia com o meio
por dentro dos últimos acontecimentos

............boca aberta
............olhos abertos
............nariz aberto
............ouvidos abertos
.,,,,,,,,,,,pele aberta

no transporte coletivo
dúzias de cidadãos colados
todos amados

........................setudosemovenamesmavelocidadetudoestá
..............................................................................parado

.......................(nunca
.......................se chega

.......................sempre
.......................se está

.......................no mesmo
.......................lugar

...........................................[impossível te encontrar])

enquanto lembro um soneto
de William Shakespeare
alguém escuta “The Time”
na voz de Will.I.am do Black Eyed Peas

............no transporte coletivo
............dúzias de cidadãos colados
............todos armados

na tela da TV
a queda
no Oriente Médio
de um tirano
resulta num poema atlântico

............e o Mar lançou o homem sobre a Terra
............o Fogo e o Ar
............para que houvesse banhos
............de sangue
............e a Água estivesse em todo o Lugar

transporte coletivo:
dúzias de cidadãos calados
todos fuzilados

............boca aberta
............olhos abertos
............nariz aberto
............ouvidos abertos
,,,,,,,,,,,,pele aberta
...

o peixe morre pela boca

...
...
adorar memória
que permite a leitura de poemas no escuro

o homem morre por todos os motivos
poetas
quando a expectativa da criação de mundos
em versos futuros
não compensa a dor da existência
(a lembrança de antigos mundos só aprofunda a tristeza)

Hart Crane queima na minha cabeça
como Celan
e outros
tão claramente

se a poesia não mata
tampouco salva
Carlos

não sou escravo da
sou a própria
palavra
..

dois crânios

...


preciso lembrar
que o encanto do teu rubor
é sangue sob tua pele
não oceano

preciso imaginar
que te sustentam
ossos sob tuas carnes
crânio sob tua face

mas então
ridícula e tragicamente
que meu crânio poderia amar o teu
...
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