sábado, 23 de julho de 2011

oxímor(t)os

..
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...entropias atrás
mor(us)
morte
incontigente
distópica
utopia
..
..

Caronte carente

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Saindo cedo de casa,
porém tarde da história,
a caminho da cidade segura –
oxímoro ou pleonasmo
–, Sampultura...

Dentro do ônibus (
metais,
tecidos,
plásticos
) – em movimento e parado
ao mesmo tempo –, rumo a destino conhecido mas
ignorado, cortinas fechadas, passageiros passageiros,
cada um em sua poltrona numerada:
uns em sono profundo, outros noutros refúgios (
remorsos,
preocupações,
fones de ouvido
), o frio aproximando mais o mais
próximo, braços em contato devido a restrições
de espaço...

Uma hora e pouco de seu corpo ali para sempre,
de sua respiração apenas sonhada sob o so
m do motor que soterra o romantismo latente,
deixando só o desejo nu no consolo das mão
s que se tocam e entrelaçam, protegendo uma à ou
tra do frio ou da solidão ou de ambos, se
m saberem que, em outro con
texto (
em movimento e parado ao mesmo
tempo
), protegem apenas um corpo e uma mente,
a essa altura (
tarde na história
),
manetas (
para sempre
).
..
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ultima thule

..
..
a consciência
caçadora
de essências
é morta
a tempo
pela aparência
da presa
..
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apagão da memória (pendrive ciborgue)

..
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levamos
lembranças
enlatadas
em gigabytes

lembramos
em telas
uma imagem por vez
ou num filme
a não ser
que acabe a energia elétrica
..
..

aclusão

...
...
À sua disposição para gerar mais dúvidas,


Poesia
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em outras palavras (versão autobiográfica de “que não termina”)

...
...
A perda de um pai ausente, aos treze,
pôde ser substituída pela leitura
de um livro sobre o tempo –
antes, durante e depois do enterro.

Uma semana de diferença, e
a morte da avó materna: “antes ela
do que eu”, dissera a mãe em
outras palavras – palavras ternas,
lembradas conforme à letra: “Deus
tinha que levá-la para que em seu
lugar não fosse eu”, eufemismo
eficaz contra a dor da culpa por
ser incapaz de sentir dor.
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...

que não termina

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...
A perda de um parente, aos treze,
pôde ser trocada pela leitura
de um poema sobre o tempo –
antes, durante e depois do enterro.

A perda da própria vida, aos trinta,
pôde ser trocada pela escrita
de um poema sobre o tempo,
que não termina.
...
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